terça-feira, 22 de julho de 2014

Reportagem Especial

Reportagem Especial

Ginástica Artística trabalha técnica e disciplina em crianças e adolescentes

Programa oferecido pela Futel em parceria com a UFU tem cerca de 90 alunos nas alunas de traves, solo, cavalo e argolas

Disciplina, coordenação motora e técnica são características fundamentais para os praticantes de ginástica artística, também conhecida como ginástica olímpica. A modalidade, que é sempre esperança de medalhas para o Brasil nos Jogos Olímpicos, tem muitos adeptos, porém pouca visibilidade. Em Uberlândia, onde há um programa municipal de incentivo à modalidade, não é diferente. Mas o que move os três professores e seus quase 90 alunos de 6 a 17 anos é a paixão pelo esporte.
Há 21 anos, Mário Sérgio Arantes é professor e técnico da modalidade oferecida pela Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer (Futel), no ginásio do campus de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atleta aos 12 anos, Mário Arantes se tornou monitor bem cedo, aos 13, e desde então instrui as crianças no esporte.
A iniciação esportiva da Futel tem por prerrogativa aperfeiçoar e preparar futuros atletas de alto rendimento. Mas isso é apenas parte do conceito. “O importante é a socialização e a disciplina. É o que precisamos no esporte”, destaca Mário Arantes.
Os ensinamentos foram bem recebidos pela ginasta Bárbara Silva, de 13 anos. Ela treina desde os 6 anos e conheceu o esporte pela TV. Bárbara conta que ganhou muito mais que técnica durante as aulas. “Nós aprendemos disciplina e, principalmente, concentração”, diz a admiradora de Daiane dos Santos, medalhista olímpica.
Um dos quesitos para adquirir tanta responsabilidade e valores morais começa pela frequência exigida nas aulas. Os alunos podem ter apenas três faltas justificadas – o professor afirma que eles são bastante fiéis, havendo raras desistências. E, se depender dos alunos, a presença será sempre garantida. “Venho aqui porque gosto. Eu quero estar em um Pan Americano, mas ainda tenho muito caminho pela frente. Nosso maior desafio é vencer o medo e a insegurança”, diz Bárbara Silva. Ela já participou de duas competições nacionais e chegou a conquistar o quinto lugar.

Alto Nível
           
O intercâmbio com outros atletas acontece durante as competições e se mantém ao longo do ano através da internet, por meio das redes sociais. Mesmo que Uberlândia seja uma das poucas cidades mineiras, além da capital, com estrutura para o esporte, a ginástica não conta com grande visibilidade nem com o apoio do empresariado, o que dificulta a maior participação dos atletas nos campeonatos fora do município. Gastos com tratamento de lesões e nutrição também demandam investimento.
            O suporte é dado pela Futel com os professores e ajuda no custeio, pela UFU com o espaço e os equipamentos e pelos pais dos atletas, que são os maiores responsáveis por viabilizar o custo com as viagens de seus filhos para competir. A Afaga, associação criada pelos pais dos atletas para apoiar os ginastas nas competições e nos treinamentos, conta com um repasse da Futel, gasto de acordo com a finalidade dos convênios firmados.
Mas o técnico Mário Sérgio Arantes ressalta que, mesmo sem um grande suporte financeiro e sem um centro de treinamento completo, os atletas conseguem atingir a excelência nos treinos e competições. A equipe masculina conquistou o terceiro lugar na colocação geral de um campeonato nacional. O torneio contou com ginastas de clubes de grande expressão no país. Só por esse destaque, é possível perceber que as equipes de treinamento têm técnica para ir mais longe. “Não estamos distante do alto nível”, diz o professor.
Para angariar mais apoio do empresariado, Mário Sérgio Arantes está com um projeto de montar um relatório com resultados da ginástica artística desde quando iniciou os trabalhos até os dias de hoje. “Precisamos disso, pois já conquistamos muitas posições de destaque”, disse.

Treino e mais treino

De segunda a sexta-feira, cada turma realiza quatro horas diárias de treino, entre aquecimento, equilíbrio nas traves, solo, cavalo e argolas. O objetivo é desenvolver as condições cognitivas, motoras e emocionais, sendo essa uma das superações da garotada da iniciação esportiva.
Embora já tenha experiência em capoeira e dança, Pedro Henrique Rodrigues de Freitas tem apenas 11 anos. Desde abril do ano passado ele pratica a ginástica artística, após conhecer o projeto com sua amiga de escola. A flexibilidade do garotinho, que mora no bairro Carajás, é grande, e ele ainda treina a técnica e o emocional para desafiar o medo de uma saída nas barras paralelas com mortal para trás.
O maior incentivo de Pedro Henrique está na trajetória dos ídolos Arthur Zanetti e Diego Hypólito, dois dos maiores campeões mundiais da modalidade. O caminho das medalhas está no começo, mas Pedro fala com orgulho sobre o bom desempenho em tão pouco tempo de prática. “Com duas semanas após eu ter começado no esporte, fui para uma competição em Belo Horizonte e ganhei uma medalha de ouro e outras três de prata”, diz o menino especialista no solo.
Mesmo sem trabalhar, o ginasta banca quase todos os gastos com campeonato. Ele faz poupança com o dinheiro que ganha de aniversário e de Natal para poder disputar as medalhas. A dedicação de Pedro Henrique se dá também fora do ginásio. Fazia aula de teclado no conservatório e agora aprende inglês. Tudo isso tem um objetivo maior. “Quero ser professor de educação física e médico. Sonho em ajudar as pessoas”, diz. Nada tão surpreendente para quem, apesar de tanta técnica e de várias conquistas nos torneios, conta que treina ginástica simplesmente pela convivência com as pessoas. “É pela amizade e pela saudade”, afirma.

Participação e novos rumos

Para facilitar o acesso, a Futel realiza as inscrições da ginástica artística no próprio ginásio das aulas, no campus de Educação Física da UFU. É necessário apresentar atestado médico, atestado de escolaridade, documento do aluno e dos pais ou responsáveis, bem como uma foto 3x4 e cópia do comprovante de endereço. As aulas são gratuitas.
A capacidade é de 120 alunos, e com a proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a procura para iniciar na modalidade pode ganhar volume, dependendo do resultado da ginástica nas Olimpíadas. “A Futel está preparada para isso. Há a possibilidade no próximo ano de aumentar o projeto, levando-o para algum poliesportivo. Vamos recuperar alguns equipamentos para poder criar esse novo espaço”, diz Deyviane Souza, diretora-geral da Futel.
O público poderá ver parte dos atletas mirins da ginástica artística no desfile de 7 de Setembro, quando as crianças e adolescentes do projeto da Futel estarão presentes para celebrar os 192 anos de Independência do Brasil.
Considerada um celeiro esportivo, Uberlândia atrai a prática de diversas modalidades por causa de sua estrutura. Não à toa, a cidade já é confirmada para receber a delegação da Irlanda, que terá um período de preparação no município antes de competir nos Jogos 2016.
E como forma de fomentar ainda mais o espírito olímpico, já que é o próximo grande evento que o país receberá depois de ter sediado a Copa do Mundo de futebol, nesta sexta-feira (25), Uberlândia sedia o programa COB nas Ruas. Serão apresentadas as modalidades badminton, golfe e lutas associadas. Haverá ainda a participação de um atleta olímpico que irá ministrar palestras com o intuito de incentivar a prática esportiva. A ideia é promover as modalidades menos conhecidas e torná-las mais próximas das pessoas. Para uma cidade que já tem estrutura e base de atletas, como Uberlândia, o caminho para formar campeões fica mais fácil de percorrer.


Fillipe Alves
Futel

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