Para ele, a crise é hídrica, mas o problema é de gestão. Ele defendeu que o Estado crie políticas públicas de gestão das águas como forma de enfrentamento. “A chuva não basta, uma vez que as nascentes, as áreas de recarga e áreas verdes estão se perdendo”, ponderou.
Polignano relatou que os recursos do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro) estão sendo contingenciados, o que resulta em R$ 250 milhões a menos de investimento na gestão hídrica.
“A situação é grave. Muitos comitês não têm sequer sede e pessoal. Precisamos fortalecer o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), uma vez que Minas Gerais não é mais a caixa d’água do Brasil”, disse Polignano.
O representante do Fórum Mineiro dos Comitês de Bacias, Gustavo Malacco, reforçou a importância dos repasses do Fhidro e alertou que a lei que o regulamenta deixará de vigorar no final deste ano. “O governo ainda não enviou um novo projeto de lei para a ALMG. Se isso não acontecer, os comitês ficarão ainda mais inviáveis financeiramente”, disse.
Ele cobrou transparência do Estado quanto aos dados do desmatamento e disse que a atividade agrossilvipastoril e a mineração estão acabando com a água.
Igam reconhece dificuldades, mas garante apoio aos comitês
A gerente de Apoio aos Comitês de Bacias Hidrográficas do Igam, Clarisse Dantas, entende que os comitês precisam ser fortalecidos para o enfrentamento da crise hídrica, mas reconhece que ainda existem entraves para o acesso aos recursos do Fhidro.
Segundo ela, entre 2010 e 2017, foram repassados R$ 141 milhões aos comitês e há um saldo de R$ 14 milhões para serem repassados ainda neste ano. “O objetivo é usar esses valores para viabilizar a estrutura básica dos comitês”, ressaltou.
Clarisse Dantas garantiu que o Estado arca com despesas de transporte, hospedagem e alimentação, o que permite que os comitês se reúnam. “Em 2017, foram custeados 27 conselheiros, num total de quase R$ 80 mil. Além disso, o custo por pessoa no Igam é de R$ 780 mil por ano. Há dificuldade em relação ao Fhidro, mas me surpreende a alegação de que falta de estrutura para os comitês”, completou.
Copasa – O diretor de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Tomás, disse que a crise é ambiental, econômica e de gestão. Ele informou que a concessionária perde 40% da água captada em razão de ligações clandestinas e defendeu o diálogo como forma de superação da crise hídrica. “Para piorar, o volume de chuva está na metade da média histórica”, salientou.
Ministério Público defende integração de políticas de Estado
O promotor de Justiça Luciano Alvarenga afirmou que o caminho para o enfrentamento da crise passa pela integração de políticas ambientais, econômicas e de recursos hídricos. Ele defendeu que o Estado crie mecanismos de combate ao uso abusivo da água pelas mineradoras e ao desmatamento.
Para o consultor da Gerência de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado (Fiemg), Odorico Araújo, a sociedade não está fazendo a sua parte. Segundo ele, dados da Prefeitura de Belo Horizonte mostram que o usuário não reduziu seu consumo de água apesar dos alertas. “O recurso é finito e, se são for preservado, em poucos anos não será mais apto para o consumo”, alertou.
Deputados pedem melhor gestão dos recursos
O presidente da comissão e autor do requerimento que motivou o debate, deputado Doutor Jean Freire (PT), disse que a crise da água é antiga e que a culpa não é da falta de chuvas. Para ele, é preciso combater a má gestão dos recursos públicos.
O parlamentar criticou o agronegócio e a mineração como alguns dos responsáveis pela má distribuição de água. “Não há como acabar com a seca. Temos que saber conviver com ela, e isso passa por um efetivo plano de enfrentamento da crise hídrica”, sugeriu.
A vice-presidente da Cipe Rio Doce, deputada Rosângela Reis (Pros), lembrou que milhões de pessoas são atingidas pela falta de água e que a escassez foi agravada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (Região Central do Estado).
Para ela, não dá para esperar que a natureza se encarregue de solucionar a crise hídrica. “O Fhidro não está sendo aplicado corretamente. Qual é a destinação desses recursos? As empresas usufruem da água sem contrapartida para a sociedade e isso também precisa ser revisto”, reforçou.
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